Os moradores Imigrantes estiveram reunidos no dia 17 de Setembro para falar dos seus problemas e das reivindicações que têm para fazer cumprir o seu direito a viver dignamente na cidade! Esta foi a intervenção que fizeram na manifestação CASAS PARA VIVER de dia 30 de Setembro.
Immigrant residents were gathered on September 17th to talk about their problems and the demands they have to enforce their right to live with dignity in the city! This was the intervention he made at the HOUSES FOR LIVING demonstration on September 30th.
O meu nome é Khalied, moro em Portugal há 4 anos. Há alguns meses atrás estava morando num prédio sobrelotado que desabou com pessoas ainda lá dentro. Por sorte ninguém morreu, eu próprio me encontrava no trabalho. Depois da primeira noite após o acidente fomos abandonados pelas autoridades locais. Hoje estou aqui representando a comunidade imigrante, para expor a situação da maioria dos imigrantes que trabalham e vivem em Portugal e no Porto.
A situação da habitação em Portugal e no Porto é ruim e está a piorar. Enquanto a cidade está cheia de casas vazias e de milhares de hotéis e hostels com enormes lucros, estamos sendo obrigados a pagar 200€, 250€ ou mais por uma cama em um quarto partilhado, sem contrato e sem cozinha, sem condições mínimas para viver e descansar adequadamente. Quem tem família vê-se obrigado a pagar 400 ou 450€ para partilhar um apartamento sem espaço mínimo suficiente. Por sermos imigrantes somos discriminados no trabalho, no acesso à saúde, na tentativa de encontrar uma casa, porque muitas vezes nem é possível encontrar um lugar qualquer para viver. Muitas vezes não temos outra escolha a não ser viver nas ruas.
Trabalhamos todos os dias e o dia todo por salários baixos, sem férias e sem segurança, e ainda temos que dar muito do que ganhamos para encher os bolsos do senhorio, que às vezes é também nosso patrão.
Trabalhamos na construção, em lojas, cozinhamos em restaurantes, entregamos comida às pessoas em casa, trabalhamos na agricultura, vivemos aqui há meses ou anos mas não temos o direito de poder viver numa casa adequada, com espaço, privacidade, serviços básicos e tranquilidade.
Os governos locais e centrais dizem não saber da nossa situação e fecham os olhos. Há duas semanas atrás, organizamos um encontro dedicado a expor e discutir os problemas e a situação dos imigrantes que aqui vivem. Após essa discussão, chegamos a um acordo sobre o que pensamos que poderia contribuir para resolver o nosso problema.
Estas são as nossas reivindicações: Primeiro, a regularização imediata de todos os imigrantes, para que possamos ser considerados cidadãos de plenos direitos. O processo de regularização é muito lento e é pensado para ser de difícil acesso e cumprimento. Isso precisa mudar.
Em segundo lugar, a restauração e fiscalização das casas onde vivem os imigrantes, após um levantamento comprometido por parte das autoridades locais. Isto é muito necessário para atender à forte precariedade das condições em que muitos imigrantes vivem, assim como para combater a exploração da comunidade imigrante.
Terceiro, exigimos habitação pública dedicada para a comunidade imigrante e a colocação de devolutos no mercado de arrendamento com rendas controladas para resolver o problema da sobrelotação e o enorme problema habitacional que a maioria de nós aqui enfrenta hoje.
Por último, exigimos o direito à nossa própria comunidade, o direito à cultura, à religião, à família, da mesma forma que um cidadão português nativo.
Só se nos unirmos poderemos falar e reivindicar os nossos direitos, ajudando-nos uns aos outros, fazendo conhecer a nossa situação e obrigando o Governo e a opinião pública a ouvirem as nossas reivindicações!
English
My name is Khalied, I’m living in Portugal for 4 years now. Some months ago, I was living in an overcrowded building which collapsed with people inside. Luckly, I was busy at work and no one died.
After the accident and the first night, we were abandoned by the local authorities. Today, I’m here representing the immigrant community, to expose the situation of most immigrants working and living in Portugal and in Porto.
The situation of housing in Portugal and in Porto is bad and getting worse. While the city is full of empty houses and thousands of hotels and hostels are making huge profit, we are forced to pay 200€, 250€ or even more for a bed in a shared room, without contract or kitchen, without minimum conditions to live and rest properly. Someone who has a family is forced to pay 400 or 450€ for a shared flat without enough space.
Because of being immigrants we are always discriminated when working, when we are trying to access health care, when trying to find a home because many times it is not possible to even find somewhere to live in. Many times we have no other choice than to live on the streets.
We work every day and all day for low wages, no holidays and no security, and still have to give much of what we earn to fill the pockets of the landlord, sometimes the same person we work for.
We are working in construction, in shops, cooking in restaurants, delivering food to people at home, working in agriculture, we have been working and living here for months or years but we don’t get the right to be able to live in a proper house, with space, privacy, basic services and tranquility.
The local and central governments pretend they don’t know about our situation and close their eyes.
Two weeks ago, we organized a meeting dedicated to expose and discuss the problems and the situation of immigrants living here. After this discussion, we came to an agreement about what we think could contribute to solve our problem.
These are our demands: First, the immediate regularization of all immigrants, so we can be regarded as citizens of full rights. The regularization process is very slow and designed to make it difficult for someone to go through it. That needs to change.
Second, the restoration and inspection of houses where immigrants live, after a serious survey done by the local authorities. This is very much needed to address the poor living conditions of immigrants and the exploitation of the whole community.
Third, we demand public housing dedicated to the immigrant community and the placing of empty houses in the rental market at controlled rents to solve the overcrowding problem and the huge housing problem that most of us here are facing today.
Lastly, we demand the right to our own community, the right to culture, religion, family, the same as a native Portuguese citizen.
Only if we come together we can speak up and claim our rights, help each other, make our situation known and force the Government and public opinion to hear our claims!